padre orivaldo robles

Texto

Louvação ao meu amigo padre Orivaldo Robles

Por Laércio Souto Maior:

Começo este artigo solicitando aos leitores esquecer por um momento a imagem do pacato e operoso Monsenhor Orivaldo Robles, vigário paroquial da Catedral Metropolitana de Maringá, e juntos retornarmos aos perigosos e trepidantes anos quando o povo brasileiro convivia com o regime militar implantado em nosso país a partir do dia 1º de abril de 1964, e sua juventude dourada pegava em armas para tentar, em vão, derrubar o governo usurpador.Continue lendo ›

Geral

A despedida final

Vídeo feito em agosto de 2009, quando o padre Orivaldo Robles despediu-se da Comunidade Paroquial Santa Maria Goretti, na Zona 7, em Maringá. Hoje às 15h será celebrada a última missa de corpo presente, pelo arcebispo dom Anuar Battisti, e em seguida o corpo será levado ao Cemitério Rainha da Paz, onde será sepultado.

Homenagem

Orivaldo, o amigo querido

(Texto de A. A. de Assis, na apresentação do livro “Celeiro desprovido”, seleção de crônicas do Padre Orivaldo Robles)

Dizem que quando a gente gosta de uma pessoa acaba gostando de tudo o que essa pessoa faz ou diz. Isso tem muito de verdadeiro. Mas no caso de Orivaldo Robles não sei de quem e do que eu gosto mais.Continue lendo ›

Verdelírio

Ordenação

Paulista de Poloni, onde nasceu em seis de maio de 1941, o querido padre Orivaldo Robles (foto) completou ontem 52 anos de sua ordenação. Ele foi ordenado pelo saudoso arcebispo dom Jaime Luiz Coelho, no dia 7 de dezembro de 1966. Padre Orivaldo que é um excelente escritor tem uma memória privilegiada.Continue lendo ›

Igreja

Ordenação sacerdotal

orivaldo

Hoje às 18h30, na Catedral de Maringá, será celebrada missa em ação de graças pelos 50 anos de ordenação sacerdotal do padre Orivaldo Robles. Vem a ser praticamente uma unanimidade, um dos grandes intelectuais da cidade.

Crônica

Desculpe, sim?

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldo“Homo sum, humani nihil a me alienum puto” (Sou homem, nada do que é humano eu considero estranho a mim). A sentença é de Terêncio (185-159 a. C.), poeta e dramaturgo romano. Posto no fim da oração, como é praxe em latim, um curioso verbete nada tem a ver com o que algum apressadinho imaginou. É só a primeira pessoa singular do modo indicativo do verbo “putare”, sinônimo de pensar, achar, considerar. Terêncio afirmava que, sendo humano, ele não se via como melhor do que ninguém. Qualquer falta cometida por alguém ele também poderia cometer.
Aprendi essa verdade na infância. Estou convencido que não existe barbaridade praticada por outrem que eu não possa repetir. Não sou melhor que os outros. Nem tinha por quê. Estou sujeito ao erro como qualquer mortal. Continue lendo ›

Crônica

Gente importante

padreorivaldoComentei, outro dia, o retiro espiritual que fizemos no mês passado. O pregador impressionou pela vastidão de conhecimentos e pela propriedade de colocações sobre nosso papel de servidores do povo de Deus. Dia 20 p. p., a CNBB informou que o papa Francisco o nomeou membro da Pontifícia Comissão Bíblica de Roma. Seu nome é padre Luís Henrique Eloy e Silva. É doutor em Ciências Bíblicas pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma, professor universitário em Belo Horizonte, membro da Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé e coordenador da equipe de revisão da Bíblia da CNBB. Depois dos cursos superiores de Filosofia e de Teologia, já padre, estudou mais oito anos na Europa (mestrado e doutorado). Tem formação musical, toca piano e fala oito línguas além do português. No Brasil e no Exterior disputam-no para conferências, palestras e pregações. E aí, é fraco o cidadão? Continue lendo ›

Crônica

É vergonha pedir comida?

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoEnquanto a mãe vivia, todos os domingos eu almoçava com ela e os de casa. Depois que morreu, mantenho o costume. Para preservar o que sobrou da família. Dos sete que mudamos para cá em 1957, sobramos quatro. Por quanto tempo ainda?
Domingo passado, como sempre, minha irmã acompanhou-me até ao portão. Dois homens de média idade, maltrapilhos e barbudos, pediram comida. Não eram daqui, mas de Cianorte, disseram. Acrescentaram: “É melhor pedir que roubar”. Enquanto minha irmã voltava para lhes preparar o que tínhamos na mesa, dirigi-me a eles: “Não é vergonha pedir um prato de comida”. Agradeceram efusivamente. Notei que ficaram surpresos. Talvez ninguém lhes fale de modo amistoso.
Anda muito confuso este nosso velho mundo. No passado, todos sentiam gosto em dar comida a um pobre. Mesmo que nunca tivessem ouvido o nome de Jesus, intuitivamente percebiam a correção daquele “Quem vos der de beber um copo d’água porque sois de Cristo, não ficará sem recompensa” (Mc 9,41). Ou daquele “Todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40).Continue lendo ›

Crônica

Retiro espiritual

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoSemana passada, fizemos nosso retiro espiritual. Todo ano, reservamos quatro dias para refletir sobre nossa vida de ministros de Deus. Ministro é quem serve. O padre serve a Deus prestando serviço aos irmãos.
Ninguém vira padre da noite para o dia. Passamos tempo mais ou menos longo de preparação. Antigamente começava no seminário menor, para o qual entrávamos aos dez, doze anos. Entre nós, poucos são desse tempo. Apenas os padres Banki, Telles, Almeida, Julinho e este escriba. Dom Anuar costuma chamar-nos de anciãos. Depois do Concílio Vaticano 2º (1962-1965), os candidatos começam pelos cursos superiores de Filosofia e Teologia (oito anos). Os anciãos, que fizemos seminário menor, tivemos uma preparação mais longa. Foram não oito, mas catorze anos.
Retiro espiritual é uma antiga prática espiritual da Igreja. É a busca de maior intimidade com Deus. A gente se retira da vida de todos os dias para, no silêncio e na oração, examinar a resposta que estamos dando ao que Deus espera de nós. O retiro é orientado por um pregador, que propõe aos retirantes o tema da reflexão pessoal.Continue lendo ›

Crônica

Eleitor, pense bem

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoSe bem me lembro, neste espaço, falei já de Benedito Valadares, folclórica raposa mineira para quem política é como nuvem: você olha, é uma coisa; olha de novo, já é outra bem diferente. Ontem como hoje, veem-se aos abraços desafetos políticos que, há não muito tempo, se ameaçavam de morte. Não é reconciliação cristã, não; apenas acomodação de interesses.
Noutros países não sei, mas no Brasil política é a habilidade de abandonar o barco ao primeiro sinal de naufrágio. E de rumar bem depressa para outro mais seguro. Gente do mar conhece isso como procedimento de ratos. Sem risco de erro, pode-se garantir que a maioria dos nossos políticos tem em mente apenas a conquista do poder. “Mas não é o objetivo da política?”, perguntarão. Sim, mas para quê? Os nossos, em sua maioria, querem o poder para se ajeitar na vida. “Bem comum”, para eles, é pura balela.Continue lendo ›

Crônica

Quando vale a pena imitar

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoNa última edição do “Bem, amigos” perguntaram a Levir Culpi a diferença entre ser técnico de futebol no Japão, onde trabalhou muitos anos, e no Brasil. Embora atento ao horário do programa, ele disse que as três primeiras palavras japonesas que ouviu num vestiário foram: “com licença”, “desculpe” e “obrigado”. No Brasil, o que se ouve, em vestiário ou fora dele, são três palavrões cabeludos, que ele falou, mas não tenho coragem de reproduzir. É a diferença entre povo que valoriza a educação e povo para o qual educação não passa de tolice ou frescura.
No interior paulista, quando criança, vi poucos japoneses, nisseis ou sanseis. Aqui, conheci pessoas de olhos puxados, cabelo liso, voz mansa e sorriso doce. Em geral, educadas.Continue lendo ›

Crônica

Racismo faz mal

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoO racismo pode fazer um mal maior ao seu autor do que à sua vítima. Aquela torcedora do Grêmio de Porto Alegre teve a infelicidade de ser filmada enquanto gritava “macaco” para Aranha, goleiro do Santos, na partida entre as duas equipes, quinta-feira passada. Ela estava no meio de um grupo atrás da meta defendida pelo santista, que, visivelmente irritado com as injúrias recebidas, foi reclamar ao árbitro interrompendo a partida aos 42 minutos do segundo tempo. A imagem espalhou-se pelo Brasil inteiro, talvez pelo mundo. Não há como desmentir nem defender uma interpretação diferente. Até um cego de olhos vendados é capaz de entender aqueles três movimentos labiais destacados e inconfundíveis. A moça não só ofendeu a vítima, mas o fez aos gritos, no volume mais alto que podia.
Ela é um dos dois sócios reconhecidos e afastados do quadro social do clube dos pampas. Perdeu o emprego na empresa terceirizada, que prestava serviço à Brigada Militar da Polícia Militar Gaúcha. Teve a casa atingida por pedras atiradas por gremistas receosos da punição que o clube poderia vir, como realmente veio, a sofrer. São consequências dolorosas de uma atitude infeliz, que tem chance de ainda provocar mais dissabores.Continue lendo ›

Crônica

Melhor idade?

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoEnsina a filosofia do irmão da estrada que na escola da vida não há férias. Desde que nascemos entramos em processo de permanente aprendizado. Seguimos aprendendo até ao dia da nossa morte. Morrer é, na verdade, a última lição do curso. Quando ela chega, deveríamos sabê-la direitinho. Afinal, tivemos toda a vida para estudá-la. Não é, infelizmente, o que acontece. A maioria nem quer ouvir sobre ela. Se há uma lição a cuja aula a gente faz questão de faltar é essa.
Dom Murilo Krieger tinha o costume de dizer: “Morro e não vejo tudo”. Queria deixar claro que podemos ter uma experiência, antes não pensada, que supúnhamos impossível. Porque, queiramos ou não, a vida ensina. Quanto mais tempo a gente acumula na sacola, tanto mais vai também ajuntando conhecimentos. Por isso, aos velhos costuma-se atribuir maior sabedoria que aos jovens. Se bem que, em nossos dias, as pessoas não se mostrem interessadas em sabedoria. Muito mais parece se interessarem por dinheiro, beleza e juventude.
Diógenes (412 a. C. – 323 a. C.) de Sinope, da Grécia (não Sinop, do Mato Grosso), filósofo, exilado de sua cidade, instalou-se em Atenas. Foi viver num tonel ou barrica, a cuja frente ergueu uma placa com o anúncio: “Vende-se sabedoria”. Coitado, estivesse hoje no Brasil, iria morrer de fome, com certeza.
Vivemos a era das aparências que fascinam. Dos brilhos sedutores que dão a impressão momentânea de oferecer uma felicidade que nunca terá fim. Entretanto, como a vida é cambiante, cheia de surpresas e novidades, em pouco tempo, já pensamos em mudar de novo. Parece difícil admitir que algo seja definitivo. Queremos que tudo seja substituível, descartável. Até as pessoas. Talvez nunca, como hoje, os casais tenham trocado tanto de companheiro (a).
Não é possível entender como regra absoluta, mas parece que, quando a mulher procura outro, está interessada num mais rico; o homem, numa mais bonita. Dinheiro e bela aparência foram elevados à categoria de valores imprescindíveis. Ainda assim, menos apreciados que juventude, esta, sim, objeto do desejo de dez entre dez pessoas consideradas normais. A fase que atravessamos é bastante curiosa. Nunca as pessoas desfrutaram, como agora, de vida tão longa. Ao mesmo tempo, nunca apreciaram tanto a aparência de jovem sarado (a). Ser (ou somente parecer) jovem tornou-se um ideal a conquistar, qualquer que seja o custo. Chegamos a esta incoerência: ninguém quer morrer jovem, mas também não quer ficar velho.
De todos os mal-estares da vida seguramente nenhum é pior que a velhice. Para a maioria das pessoas, nela reside a desgraça maior. E não há como evitá-la. Ela vem de braço dado com um bando de más companhias, as temidas doenças. Por mais que se disfarce ou dela se evite falar, a velhice vai inevitavelmente instalando-se no corpo da gente. Não há força capaz de impedir.
Dos idosos espera-se sabedoria, não é? Melhor, então, deixarmos de fingimento e piedosas mentiras. Qual o sentido de expressões como “melhor idade” ou tolice semelhante? Melhor para quem? Para os laboratórios produtores dos remédios de uso contínuo, que precisamos tomar? Nenhum idoso inventou essa bobagem, tenho certeza.
Vamos aceitar, com serenidade e gratidão, que a velhice nos alcance. Mas não permitamos que se instale em nosso espírito. No corpo já está de bom tamanho.

Crônica

Canção para meu pai

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoEsclareço que não sou compositor. Para isso não tenho talento. Se tivesse, eu lhe escreveria a mais caprichada canção. Sempre que aparece oportunidade, comento sobre quanto nos marcou a figura do homem franzino e calmo – calmo demais para um espanhol – a quem chamávamos pai. Para as pessoas de fora sou o filho que mais fala sobre ele. O amor e o respeito, no entanto, que merece um verdadeiro pai, os cinco nunca deixamos de consagrar ao nosso velho. A rigor, nem tão velho: morreu mais jovem do que eu sou hoje.
Não me preocupa nem um pouco que percebam como sou sensível. Ou “manteiga derretida”, conforme o povo diz. De vez em quando, sinto vontade de escutar “Mi viejo”, composição de Piero y José. Em português existe como “Meu velho”, versão de Nazareno de Brito, conhecida na interpretação de Altemar Dutra. Prefiro a original, aquela que no 3° Festival da Canção de Buenos Aires, em 1969, apresentou um Piero ainda seminarista, de batina e colarinho romano. Dependendo da hora, quando a ouço, me acaba vindo aos olhos alguma lágrima intrusa, que não dei conta de segurar.Continue lendo ›

Crônica

Os descartáveis

padreorivaldo Sábado passado, depois de noticiar que na Faixa de Gaza o conflito entre palestinos e israelenses tinha produzido 1000 mortos em dezenove dias, o âncora de um noticiário de TV comentou: “O mundo inteiro sente-se horrorizado com tanta violência. Enquanto isso, no Brasil, 3000 pessoas são assassinadas mensalmente e ninguém fala nada. O Brasil produz três Faixas de Gaza por mês e achamos uma coisa normal”. Dita dessa forma, a afirmação nos golpeia com a brutalidade de um soco na cara. Contudo, o quadro é mais assustador.
O Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, registrou em 2012 (último dado disponível) 56.337 assassinatos no país, cifra jamais atingida anteriormente. Quer dizer: 4690 pessoas morrem, todo mês, de morte “matada”. Essas, as conhecidas. Mas longe dos grandes centros as informações são deficientes. Terá havido comunicação de todas? Digo o registro, não esclarecimento ou solução. Nossa realidade possivelmente seja bem pior do que a descrita.Continue lendo ›

Crônica

O novo e o velho

Do padre Orivaldo Robles: padreorivaldoCom exceção da terça-feira, todos os dias salto da cama às 5h45. Às 6h00, dou uma olhada rápida nas notícias da Internet. Depois saio para a Catedral onde procuro, na oração da manhã, juntar fé e vida. Vez por outra surge um informe interessante, embora incapaz de mudar o rumo do nosso mundo sem juízo. Como a nota, outro dia, da volta à fabricação, nos Estados Unidos, do LP (long playing record), que a meninada nem sabe o que é. Sobrevive entre nós quem prefira os antigos “bolachões” tocados na radiola, pickup, radiovitrola, toca-discos ou, simplesmente, vitrola. Diz que o som é mais fiel que o do CD, DVD, Mp3 ou de outras invenções que desisti de acompanhar. E eu que julgava um transtorno acomodar meus 700 LP perfeitos, sem arranhão nenhum! Tive o bom senso de não me desfazer também do pickup Polyvox, da potência Akai e das caixas Celebration. Podem considerar-me o zelador de algum museu, não ligo. Importante é que funcionam que dá gosto. Gostei de ler (DNP, 13/07/2014, Cultura, pág. D1) que Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, de 1967, é o primeiro dos 200 álbuns do Rock and Roll Hall of Fame. Tenho esse CD.Continue lendo ›

Crônica

Deu a lógica

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoPeço a paciência de me permitirem, ainda uma vez, tocar no assunto. Perder uma Copa do Mundo é aceitável. Inaceitável foi a postura dos nossos atletas nas duas partidas finais. Não é a primeira vez que disputamos um 3° lugar. Em 1938 eu não era nascido. Em 1974 eu assisti e, pelo que o Brasil apresentou, o 0x1 contra a Polônia (gol de Lato) ficou de bom tamanho. Nesta Copa de 2014 apontavam-se como possíveis campeões Espanha, Alemanha, Holanda, Argentina e Brasil. Alguns arriscavam ainda França, Itália, Uruguai e Portugal. Analisando friamente, deu a lógica.
O que nos fará passar vergonha por cem anos é o modo como tudo aconteceu. A conquista da Copa das Confederações, ano passado, deve ter convencido nossos dirigentes de que a Copa do Mundo estava no papo. Não perderam a pose nem quando conseguimos passar da primeira fase com as calças na mão. Ainda bem que era possível empatar, senão o México… não sei, não. Contra o Chile tivemos sorte, nada mais.Continue lendo ›

Crônica

Um dia para esquecer

padreorivaldoDo padre Orivaldo Robles:
A derrota por 7×1 para a Alemanha, terça-feira passada, a mais humilhante de uma semifinal de Copa do Mundo, fez lembrar episódio que, lá na minha infância, ouvi de Padre Edwin Smeets. De 6 de março de 1953 a 27 de dezembro de 1957, estudei no seminário de São José do Rio Preto (SP), dirigido por padres holandeses. Nesse período houve a Copa de 1954, da fatídica “batalha de Berna”, Suíça, em que sofremos aqueles 4×2 a nós impostos pela Hungria de Grosics, Czibor, Kocsis, Bozsik e, acima de todos, de Puskas, lenda do futebol mundial.
Em 1950, ano do “maracanazo”, o Brasil já dispunha de apreciável valor futebolístico. Prova-o a construção do Maracanã, então o maior estádio do mundo. Estados Unidos, Canadá, Caribe e América Central não tinham futebol de expressão, mas Europa, América do Sul e México recebiam times brasileiros, que por lá excursionavam colhendo excelentes resultados.Continue lendo ›

Crônica

Um padre na balada

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoFazia 73 anos que eu não entrava numa casa noturna. Dessas que organizam noitadas tão do gosto da nossa moçada baladeira. Pelo menos não entrava numa em funcionamento: gente elegante às pampas, som nas alturas, conversa aos gritos, bebida à escolha e à vontade, salgadinhos de fino gosto, essas coisas. Eu tinha estado numa, sim, faz tempo, mas de dia, junto com o proprietário, que lá me levou para dar uma bênção às instalações. Evidentemente, estava vazia àquela hora. Nem sei se ainda está em atividade. Estabelecimentos dessa natureza abrem e fecham com rapidez surpreendente.
A casa a que me dirigi, segundo fui informado, vem bombando na noite maringaense. Nunca tive curiosidade de saber o que fazem ou como se comportam as pessoas lá dentro. Quando comentei que, à noite, estaria lá, um jovem amigo pôs-se a troçar de mim: “O que, hein! Como as coisas mudam. Padre agora frequenta balada, é?”. Não exatamente. O que houve é que o diretor comercial do DNP pediu-me que lá comparecesse na noite do último dia 25 de junho para fazer uma oração de ação de graças e dar a bênção pelos 40 anos de existência do jornal. Só isso.Continue lendo ›

Crônica

Dois goleiros de outro mundo

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoEm tempo de futebol, permitam-me falar dele. Admira como na minha infância pobre e desprovida de meios, ele tenha significado tanto. Vivendo em lugares perdidos deste mundo, sem poder vestir, como as crianças de hoje ainda no colo dos pais, uma dessas belas camisas de times, sem campo, sem técnico, sem escolinha, sem nada, o futebol marcou profundamente a infância minha e de meu irmão Eraldo. Assim como marcou a infância de muitos moleques pobres e ignorantes, como nós, de qualquer outro esporte. Para nós a chance de algum esporte chegava até ao futebol e morria aí.
A nós dois coube a sorte de assistir ao nascimento do primeiro time de futebol de Jales. Pelo menos, primeiro com um mínimo de organização: com diretoria, plantel, uniforme, cores próprias, escudo e até hino. Foi fundado pelo professor Paulo, nosso diretor do grupo escolar, única escola da cidade. Naquele fim de mundo, os professores vinham todos de fora, alguns até de cidades grandes. O querido professor Oscar Aidar, do meu 2° ano, centroavante e ídolo, por exemplo, viera de Sorocaba. Assim nasceu a Associação Atlética Jalesense. Com esse nome não existe mais. Como tantos clubes de outras cidades, foi substituída por novas agremiações de nomes parecidos. Mas do time original, aquele do começo, de atletas que a gente conhecia e com quem podia conversar, desse posso dizer: “Meninos, eu vi”.Continue lendo ›

Crônica

Desprendimento

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoFoi no tempo em que as moedas tinham grande valor. Muito maior que o dessas de agora. Alguém se lembra daquela de mil réis, que, na nossa infância, dava para comprar vinte balas toffee de leite condensado? Não balinhas mirradinhas, não; eram balas mastigáveis, grossas, bastas. Chegavam a dar dor nas mandíbulas de tanto que demoravam a acabar. Não vi nenhuma dessas moedas ainda dourada e brilhante, como deviam todas ter saído, com certeza, da Casa da Moeda, onde eram cunhadas. Mas logo eram encaminhadas para o comércio, seu destino. Passavam de mão em mão. Não é à toa que a gente considera o dinheiro uma coisa suja. As poucas moedas de mil réis nas quais conseguimos pôr as mãos traziam a data de fabricação, sempre um ano passado havia muito. Carregavam as marcas do seu longo tempo de uso. Eram encardidas de um jeito que nem um litro de Kaol conseguiria limpá-las. Mas eram as nossas moedas mais valiosas. Crianças dificilmente ganhavam uma.Continue lendo ›

Crônica

Copa do mundo ou da Fifa?

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoNão posso dizer que lembro como se fosse hoje, mas lembro: Seminário São José, Curitiba, 29 de junho de 1958. Voltamos da missa de São Pedro e São Paulo, na Catedral, e corremos para o rádio colocado no pátio. Não havia televisão. O jogo era a final da Copa do Mundo, Brasil x Suécia, anfitriã da Copa. Já tinha começado e perdíamos por 1×0. Depois Vavá empatou e acabamos ganhando por 5×2, mesmo placar da vitória sobre a França, cinco dias antes. Trabalho mesmo tinham dado Inglaterra (0x0) e País de Gales (1×0). O rei Gustav desceu da tribuna para a entrega da taça. Cumprimentou todos os jogadores. Um, em especial, tinha-o impressionado: Pelé, menino de 17 anos. Por causa de suas diabruras em campo um jornal de Curitiba, em charge na página de esportes, mostrou-o como “o saci pelelé”.
Nesse dia o futebol do Brasil nasceu para o mundo. Apagou o desastre do “Maracanazo” de 1950. Desse eu não me lembro. Era pequeno demais e morávamos num sertão aonde quase não chegavam notícias do mundo. As figurinhas do álbum que formei eram do campeonato paulista, não da seleção. Da copa de 1954, disputada na Suíça, conservo alguma lembrança. Pelo menos da nossa derrota por 4×2 para a Hungria de Puskas, então o melhor jogador do mundo. Foi uma partida violenta, apitada pelo inglês Arthur Ellis. Para nossa crônica esportiva, um larápio que nos afanou descaradamente. Durante muito tempo, apelidar alguém de “Mr. Ellis” era chamá-lo de ladrão.Continue lendo ›

Crônica

As palmadas da lei

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoNão lembro se já contei este episódio. Recordo bem coisas do passado, mas ando esquecendo as recentes. Tenho medo do alemão que ronda gente da minha idade. O tal do Alzheimer, que acompanhou o padre João de Castro Engler nos seus últimos dias. Teólogo insigne, professor no Studium Theologicum, de Curitiba, afiliado à Universidade Lateranense de Roma, Engler morava no seminário anexo ao Studium. No final da vida recolheu-se ao seu quarto em companhia dos seus queridos livros. Vejam só o que o Alzheimer aprontou para ele. De vez em quando, padre Engler punha-se a vagar, inteiramente nu, pelos corredores do enorme prédio. Algum seminarista o encontrava, cobria-o como podia e o levava de volta para o quarto. Não é muita humilhação para quem dedicou uma vida inteira à formação dos novos padres em São Paulo e no Paraná?
Está certo que hoje existem recursos médicos mais avançados que na sua época. Nem tenho a pretensão de chegar aos pés da sumidade que ele foi. Se, porém, me acontecer de chegar a esse ponto, por favor, me segurem em casa. Não me deixem sair à rua.Continue lendo ›

Crônica

As dores de cada um

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoDom Jaime gostava de citar o versículo 10 do salmo 90: “Os anos de nossa vida são setenta; para os mais robustos, oitenta: assim mesmo cheios, em sua maior parte, de fadiga e aborrecimento”. Acho que para mostrar que era um caso raro. Não completou um século, como pretendia, mas chegou perto. Morreu aos 97 anos. Poucos atingem essa marca.
Em nossos dias as pessoas vivem mais que no passado. Todos os países apresentam crescimento na expectativa de vida do seu povo. Quando era jovem, eu fazia as contas: no ano 2000, na virada do século, estarei com 59 anos. Parecia uma coisa longínqua, que nunca ia chegar. Hoje, meus 59 anos continuam distantes. Só que lá atrás. Nunca mais voltarão.
Com pesar percebo que minha disposição física não é a mesma. Mudou muito. Para pior, infelizmente. Já comentei a opinião de um amigo meu, homem simples, mas de grande sabedoria. Certa ocasião, ele me disse: “Olhe, padre, nós estamos naquela idade em que as pessoas não perguntam ‘Como vai’, mas ‘Onde dói’”. Verdade. No passado, com frequência, eu aceitava convite de amigos para pescar. Não sou grande pescador; mas é o hobby que mais me atrai. Uma distração que me reanimava para o trabalho. Fazia anos que eu não pescava mais. Outro dia, um amigo querido teve a bondade de me levar ao velho Paranazão. Levei um susto. Não pensei que eu tivesse envelhecido tanto. Continue lendo ›

Geral

Sábado sem crônica

Esta semana não tem crônica do padre Orivaldo Robles. Ele descobriu dias atrás que está com herpes-zóster, herança da varicela da infância. “Consta que para 20% dos mortais ela pode retornar, dezenas de anos depois, sob a forma de irritação dolorosa de apenas um lado do corpo. Descobri que faço parte desse “privilegiado” grupo. Ainda bem que deve durar só uma semana. E só acontece uma vez. Mas dói pra burro”, explica.

Crônica

Maringá, mãe ou madrasta?

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoOs pioneiros desta cidade agregaram ao nome Maringá os qualificativos “novo” e “velho”. O novo desapareceu pouco depois; o velho continua até hoje para designar o bairro onde a cidade começou. Os que chegaram naqueles sofridos tempos eram homens rudes, de mãos calejadas e rosto queimado de sol. A maioria era competente em derrubar mato, queimar coivara e plantar café. Da língua pátria pouco tinha conhecimento. Não sabia que nome de cidade leva adjetivo do gênero feminino. Como fez, na construção “nossa amada Maringá”, o poeta e professor Ary de Lima, a quem me coube a honra de ter como colega no querido Colégio Gastão Vidigal. Com razão até maior do que outras, Maringá é feminina. Pois não se chamava Maria do Ingá, na canção que a batizou, a retirante nordestina e imaginária musa de Joubert de Carvalho? Todos os que por aqui passam dedicam-lhe elogios feitos com adjetivos ou pronomes femininos. Sempre escutamos: “Maringá é linda. Deve ser muito bom viver nela”.Continue lendo ›