Vandalismo de Estado

Saude

Do deputado federal Chico D´Angelo (PT-RJ), médico e ex-diretor do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro:

O engenheiro Ricardo Barros é o ministro mais desqualificado em todos os 64 anos do ministério da Saúde. Com o tempo, esta sentença se tornou senso comum. Transformou-se em introdução trivial, quase dispensável, na exposição de alguma linha de raciocínio.

Cabe então avançar na compreensão do fenômeno e identificar sua de linha de atuação, que tem por modelo a estratégia de desmonte. O ministro é um agente dos planos privados de saúde, infiltrado na máquina do governo federal ilegítimo com o propósito único de depredar, de causar graves danos à saúde pública brasileira, configurando um caso talvez inédito de vandalismo de Estado.
Tomemos como exemplo a rede federal de hospitais do Rio de Janeiro. Construída ao longo de várias décadas, formada por instituições de ponta em seus campos de atuação, estas unidades de saúde não apenas prestaram relevantes e prolongados serviços médicos à população local, como formaram profissionais de excelência que se distribuíram por todas as regiões do país, beneficiando um contingente incalculável de brasileiros. Cito como exemplos o Hospital do Andaraí, um dos pioneiros no tratamento de queimados (CTQ); na criação do Centro de Hemorragia Digestiva; no CTI, sob a chefia do Dr. José Marcus Fisz. Também o Hospital de Bonsucesso que, com a Dra. Daise Monteiro de Carvalho, criou o Centro de Referência para Hemodiálise e Transplante Renal; com Dr. Fernando Alvariz no Serviço de Hepatologia e Dr. Paulo Faria no laboratório de Citologia. Outro exemplo é o Hospital de Ipanema que, além de ter realizado a primeira cirurgia cardíaca no país, criou o grande Centro de Inovação da Cirurgia Geral sob o comendo do Dr. Fernando Barroso e do Professor José Hilário. Para terminar, lembro do Hospital Federal dos Servidores do Estado (HSE) que, sob o comando do Professor Aloisio Salles da Fonseca, se tornou referência para a América Latina.
Hoje, esses hospitais, além da dificuldade natural por integrarem um Sistema Único de Saúde com grave problema estrutural de subfinanciamento, tornaram-se um dos alvos preferenciais da sanha demolidora do ministro.
Em lugar de anunciar o enfrentamento concreto das progressivas carências desta rede, o engenheiro Barros apenas dedicou desaforos aos profissionais de saúde. Como ilustração da ação destruidora do ministro, tomemos um ponto essencial para qualquer ação de saúde: os recursos humanos. Uma consulta ao Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, do Ministério da Saúde de Saúde (CNES/MS) demonstra uma queda real e significativa do número de médicos na rede federal do Rio de Janeiro. Ao invés da reposição natural, por óbitos e aposentadorias, e o acréscimo, pela demanda pelos serviços especializados que estes hospitais federais oferecem à população, constatamos uma redução expressiva do contingente de médicos. O padrão é constante para todas as áreas médicas, mas consideremos apenas algumas especialidades básicas. Em 2010, segundo o CNES, havia 884 cirurgiões nesta rede e, sete anos depois, apenas 736. No mesmo período, os clínicos gerais foram reduzidos de 1.347 para 975; os gineco-obstetras, de 487 para 479; e os pediatras, de 839 para 687. Qual a ação anunciada pelo ministro para enfrentar esta questão estrutural? Nenhuma, apenas mais impropérios.
Seria um equívoco atribuir as ações desastradas do engenheiro Barros apenas à sua incapacidade como gestor ou à sua absoluta ignorância sobre as características do setor saúde. Arrogância e deslumbramento com a notoriedade nacional também influenciam, claro. Mas a motivação central de seus atos é o desmonte persistente e sistemático da saúde pública brasileira. À população e aos profissionais de saúde, não restam dúvidas quanto à atuação do ministro Ricardo Barros, exceto por uma única questão, um vigoroso “Até quando?”. (Via Brasil 247)

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