Andei pelo Paraná

Do ex-prefeito João Ivo Caleffi:

Hoje diante da descrença que há na política e a praga que existe do individualismo exagerado, do punitivismo sem limite e do pragmatismo sem alma, onde o humanismo e o sonho da construção de uma sociedade melhor, humana, justa, de busca da plena realização da pessoa, da construção da liberdade, do espirito livre, onde a liberdade seja tão essencial com o ar que respiramos, indispensável, sem o qual não vivemos, não há vida, vem em minha cabeça o tempo que sonhei e lutei para concretizar tudo isso. Sonho que ainda sonho, que ainda luto e acredito, apesar de tudo.
Nada mais forte do que relatar o que foi vivido intensamente, de relatar a própria experiência vivida. De lutas e sonhos.

Andei sonhando e construindo este sonho pelo Estado do Paraná. Visitei todas as cidade do Estado do Paraná, cidades grandes, médias, pequenas, vilas, patrimônios, becos. Áreas rurais e urbanas. Passei por carreadores, por trilhos e veredas ao encontro de quem se dispunha a ouvir a mensagem de sonho de um mundo melhor, de uma sociedade melhor. Queimei meus navios por essa causa, por este sonho. Valeu a pena. Sonhei.
Não sonhei sozinho, mas com muitas outras pessoas iguais a mim, que comigo sonharam também. Foram Zenaide, José, Zezinho, Messias, Ivanor, Maria, Carmem, Jorge, Paulo, Fátima, Rose, João, Mariana, Vitor e muitos outros, as vezes anônimos, mas que acreditaram e fizeram história.
Pelas estradas do Paraná, na maioria das vezes, tive a companhia do senhor José Marques. Meu amigo. Não foi uma vez só não, percorremos o Estado do Paraná inteiro, os seus 399 municípios, pelo menos duas vezes.
José Marques, é um senhor alto, negro, simpático, disposto, trabalhador, alegre, amável com todos, meu amigo. É aposentado, trabalhou muito tempo de maloteiro do Banestado, antes do governo do Paraná, vender o banco público do Estado. Depois ele foi taxista, presidente do sindicato da categoria em Maringá e presidente da associação de moradores do bairro a onde mora. Um verdadeiro líder. Ele conhecia cada palmo do Estado do Paraná, cada estrada, cada vereda, cada desvio, todas as cidades, em todo lugar tinha conhecidos e parentes, que nós visitávamos cada um sem pressa. Além de tomar um cafézinha e ter uma boa prosa.
Viajávamos de manhã, a tarde e a noite. Qualquer dia da semana. Era sábado, domingo, feriados, frio ou calor, com chuva ou sol. Íamos com alegria. Pareciámos Dom Quixote de Lá Mancha, vendendo sonhos de mudar o mundo, o Brasil, o Paraná. Sonhamos. A onde tinha alguém, que estava disposto a nos ouvir estávamos lá, sem medo, com alegria. José Marques ia comigo voluntariamente, até porque, não havia recursos para qualquer pagamento, só o indispensável da viagem, a alimentação simples e pouso, quando não encontrávamos alguém que nos fornecesse de graça, o que era frequente. Sonhávamos juntos.
Pousávamos em casas de pessoas amigas, em casas paroquiais, em acampamentos e assentamentos de trabalhadores sem terra ou nas cooperativas destes trabalhadores ou em pequenos hotéis baratos.
Participei de inúmeros debates, reuniões, conversas. Em casas simples, em salão de festas e bailes, salão comunitários, em salão de igrejas, nos sindicatos, câmaras de vereadores, prefeituras, escolas, empresas. Em qualquer lugar. A onde tinha alguém que quisesse nos ouvir estávamos lá. Disposição não faltava.
Primeiro participei da disputa pela direção do partido no Paraná, disputei o cargo de presidente estadual, com oito outros candidatos. Na luta para tentar regatar o partido. Foi um bom debate. Um amigo da cidade de Umuarama emprestou um veículo saveiro, onde cabia apenas duas pessoas e tinha uma pequena carroceria coberta por uma lona, onde colocávamos os materiais de campanha e nossas malas de roupas. Ele correu também a sacola para o combustível. Fomos por ai, Paraná a fora, debatendo os nossos sonhos.
Outro momento, foi no ano de 2006, quando sai candidato a deputado federal. Percorri de novo o Estado do Paraná inteiro. Agora num gol meia vida, branco. Cortamos o Paraná de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Fomos em todas as regiões e cidades do Estado: Norte, Norte Velho, Noroeste, Sudoeste, Centro, Região Metropolitana de Curitiba, Região Litoral, fazendo inúmeras visitas, debates e reuniões. De novo posando em casas de amigos, casas paroquiais ou em outro lugares que não havia custos, pois andávamos quase sem nenhum recurso. Tínhamos que contar com a ajuda de amigos. Saíamos debatendo nossos sonhos, ideias e projetos.
Fiz 50 mil votos, verdadeiramente votos livres. Fui eleito suplente de deputado federal.
Sabia que era uma disputa dura, quase impossível de vencer, pois a maioria dos adversários tinham o poder econômico do seu lado, nas mãos e o dinheiro corria solto, chegava-se ao ponto de fechar praticamente a cidade para eles, como se fossem os donos da cidade e da região. A cidade, como curral eleitoral deles, comprando espaço, apoio, com o dinheiro, favores e promessas, como se a cidade fosse um feudo medieval, mas mesmo assim lutamos.
Acredito que vencemos!
Conheci pessoas maravilhosas, entrei, vi, senti, lugares esquecidos, encontrei color humano, dignidade, na pequena cidade, na área rural, na vila, no patrimônio, na periferia, na cidade grande, na cidade média, nas pessoas.
Foi um sonho.
Muitas outras vezes andei por cidades e lugares distantes, as vezes esquecidos, deste nosso Paraná, de nosso Brasil. A onde, as pessoas, só querem serem respeitadas como seres humanos. Acredito, que é dai, que é possível, construir um país dos nossos sonhos.
É preciso soprar essa brasa, acreditar neste sonho.
São tantas histórias. É preciso contar para não esquecer. Não podemos esquecer. É preciso narrar para resistir. É a história que ninguém conta.
Um outro jeito de fazer política é possível. É preciso desprendimento. generosidade, amar a verdade, amor, sonho.
Vivi outros sonhos também.

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