Uma árvore em nós

arvore

Por João Batista Leonardo:

Intrigante conotação da natureza, num mundo mutante onde a analogia se faz marcante, junto ao nascimento, vivência, morte e continuidade.
A terra é viva e todos nós vivos fazemos parte do seu ciclo, atendendo os seus desígnios e embrenhados numa correlação, certamente intrigante e interessante à análise.

O estudo da natureza me disse que somos iguais à árvore. Analisando com acuidade a afirmação, vejo analogia grande entre nós e a árvore. Temos um princípio no acaso, uma presente vivência e quase um mesmo fim. Vejamos:
As árvores têm raízes fincadas no chão, absorvendo, de acordo com a qualidade do solo, os nutrientes. Raízes que absorvem o sustento, tanto nas árvores resistentes, frondosas, como nas árvores franzinas. Semelhante a elas, temos raízes fincadas no solo da nossa abrangência, onde estão as obrigações, valores e fraquezas. Ali nos sustentamos e sugamos os nutrientes físicos e emocionais, forças mantenedoras da continuidade. Quanto mais rico for nosso solo e nosso conceito, tanto mais forte será nossa árvore.
O tronco da árvore a sustenta contra ventos e tempestades. Assim como ela, nosso tronco nos coloca de pé, resiste às quedas, às doenças e aos percalços. Como ela, nosso tronco, forma e sustenta os galhos.
Os nossos galhos são nossos dependentes familiares, profissionais e materiais. Podem ser mais ou menos fortes de acordo com a qualidade dos tempos vividos. Conceito firmado, na formação da família, no valor econômico conseguido, na reputação pessoal e profissional, primando o mérito na comunidade.
Dos nossos galhos vem a ramagem contendo flores, frutos, sementes e folhas.
As folhas nas árvores refletem sua higidez se verdes ou secas e têm função de relação com o mundo. Nossas folhas mostram nossa aparência física e o nosso mundo de relação, onde aparecem as pessoas, os conhecidos, os amigos e os profissionais. Como na árvore, nossas folhas podem ser pessoas novas, velhas, sadias, doentes, bonitas, feias, boas, más. Na árvore as folhas são benéficas, passam, envelhecem, caem, viram adubo e fortificam o solo. Assim também as pessoas passam, as amizades acabam, os conhecidos e profissionais desaparecem, porém, sempre deixam o adubo de algum ensinamento. É boa a firmação do escritor Mark Twain: “A vida seria muito mais produtiva se pudéssemos nascer com a idade de oitenta anos e gradativamente nos aproximar dos dezoito”.
As flores enfeitam as árvores e embelezam a natureza. Nossas flores representam nossas belezas, qualidades e o festejo da formação dos frutos. Tanto mais flores, tanto mais frutos. Os frutos nos qualificam como produtores, são os resultados da participação efetiva dentro das deliberações tomadas, são os resultados das determinações das opções, são o quinhão de julgamentos.
Como na árvore, nossas sementes produzirão descendentes, filhos e netos, firmando nossa continuidade genética.
Nem toda árvore floresce e frutifica e nem por isso perde méritos. Vale aqui o pensamento de Henfil: “Na árvore, se não houver frutos valeu a beleza das flores; se não houver flores valeu a sombra das folhas, se não houver folhas valeu a intenção da semente”. Analogamente, tantas pessoas não florescem, não frutificam, não colhem as oportunidades, são dependentes, pendurados na sociedade e carentes; no entanto, elas têm muito valor porque se prestam em oferecimento aos que desejam servir e atender o mandamento de Deus.
A árvore que propicia sombra, ar fresco, beleza e frutos, um dia morrerá e ficará por tempo de lembrança com sua carcaça, até que a terra a absorva como alimento. Como as árvores, também morreremos e ficaremos por algum tempo na mente daqueles componentes de nossas abrangências, que são nossos filhos parentes e amigos.
Diferente do homem, a árvore sempre viverá na constância da sua espécie e não mudará. Assim diz o poeta Abu Shakur: “A árvore que produz um fruto amargo, se for alimentada com guloseimas e doces, não mudará sua natureza; produzirá sempre o mesmo fruto amargo, e nele não saboreará nenhuma doçura”. O homem não, desde o mais amargo, o mais rude, quando lhe oferecido a compreensão, a esperança e a oportunidade, pode se transformar numa pessoa boa e aceitável.
Árvore e o homem, uma analogia intrigante. O âmago fisiológico dos seres vivos, a importância da vida de relação e a dependência entre si, glorificam a natureza.
A árvore é imutável, tem tempo e ciclo obrigatório. O homem é mutável, tem arbítrio e com ações transforma os tempos. Ele pode nascer num chão pobre, porém, no exercício do esforço e acatando as boas chances, enriquece o solo e vira árvore frondosa.
Ainda, a árvore nasce, vive, morre e acaba. O corpo humano também, porém a magnânima diferença está na presença da alma junto aos homens, que é eterna e perpetuará num outro tempo muito mais frutuoso e abrangente.
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(*) João Batista Leonardo é médico e escritor em Maringá. Originalmente publicado no Jornal do Povo

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