O casamentão e a pobreza

Osmann de Oliveira

Por Osmann de Oliveira:

Grande festa de casamento.
Tradicional prédio de Curitiba foi alugado por milhões de reais, e para atender a seleto e privado grupo de pessoas. O imóvel foi armazenado numa espécie de gaiola de ferros.

Ruas foram bloqueadas e estacionamento amplo de um “shopping” situado na Rua Mateus Leme, foi locado, também, para preservar os veículos dos convidados. Partiam da sociedade Garibaldi caminhonetes fretadas para ir pegar cavalheiros e senhoras que se encontravam no “brook mall”. Motoristas revezavam-se.
O protocolo era rigoroso, e os “maîtres d’hotel” seguiam à risca o “style” à francesa dispondo sobre os lugares no interior do clube, em relação aos que sentariam à esquerda ou à direita. É que nessas ocasiões, ensina a etiqueta: o marido não se senta ao lado da esposa. As bebidas eram todas importadas partindo do “champagne” de alta marca ou esvoaçando entre os “whiskys” de determinadas safras e caviar.
Tudo foi deliberado entre os “hors-ligne”, cidadãos que se reúnem em “petit comité” para deliberar sobre o que mais convém.
Nada de confundir ou equiparar a festa a uma espécie de “café-society” carioca, pois, estes não eram “chiques”, e aqui tudo deveria ser elegante, os garçons deveriam usar casacas ou “summers”.
Curitiba, em tempo algum, assistiu uma festa igual. Na história do mundo, nem mesmo nas Bodas de Canaã – realizada na Galiléia – semelhante espetáculo poderia acontecer. Nesta, Jesus compareceu com seus discípulos, e realizou seu primeiro milagre transformando a água em vinho, porque segundo Maria, não existia aquele liquido naquela hora. Está escrito no texto bíblico, capítulo 02, segundo João: “estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam dois ou três almudes…”. E lá, o mestre aconselhou: “todo o homem põe primeiro o vinho bom, e quando já tem bebido bem, então o inferior, mas tú guardaste até agora o bom vinho…”
Os noivos mostraram o quanto é bom exibir poder e dinheiro, pois, são esses predicados que movem a tudo e a todos. Todos? E os outros que nada têm, e se sentem felizes? E por falar nisto, o valor da locação do prédio, deverá ser revertido, em favor do clube, para sua reforma.
Gesto bonito.
Por falar em felicidade, gesto bonito e gesto plausível, lembro-me de trecho de uma crônica que escrevi, onde disse e repito em homenagem aos leitores: flertar, namorar, noivar e casar é parte natural da vida. Agora, consolidar uma união, desfrutar da proteção divina, gerar filhos, ter netos e tataranetos, é o coroamento maior que se pode alcançar.
É preciso, porém, que a empolgação não ignore os que nada têm, e que às vezes, podem precisar pedir um naco de pão, sem ter quem o dê.
A maior ostentação da vida é a humildade.
____________________
(*) Osmann de Oliveira é advogado e escritor
(**) Originalmente publicado no blog de Cícero Cattani

Advertisement
Advertisement