Tecnologia Social Lava Jato – Nada será como antes!

Lava Jato

Por Ricardo Neves:

O juiz Sérgio Moro é, sem dúvida, percebido pelas pessoas como o maior protagonista da Operação Lava Jato. Sem nenhum demérito para o papel representado pelo juiz Moro, ressaltadas sua competência, sua ousadia, sua coragem e sua tenacidade, cabe reconhecer que a Lava Jato é uma complexa inovação coletiva e em construção, que veio para ficar e que vai mudar definitivamente a forma como negócios e política se imbricam e desenvolvem no Brasil.
A Lava jato é o marco zero em nosso país de uma nova forma de tecnologia social de combate ao crime organizado que se desenvolve e se espraia entre a política, estatais e a contratação de obras e serviços públicos.
A Lava Jato (LJ) deve ser entendida na verdade como uma espécie de startup, trabalho em curso, que se desenvolveu colaborativamente por meio da integração dos esforços, talentos, expertises e competências de uma nova geração de juízes, advogados, promotores, investigadores e delegados.
A LJ, mais do que uma operação, é uma complexa combinação de especialistas e novas tecnologias de inteligência, investigação, coleta de dados e processamento de informação, somados ao conhecimento das modernas formas de operar do submundo do crime e suas interfaces com o subterrâneo das finanças, em especial dos processos de lavagem internacional de dinheiro.
A LJ se contextualiza em um novo marco regulatório jurídico no Brasil no qual se destaca a Lei 12.850, sancionada em 2 de agosto de 2013, e mais conhecida como a lei que sustenta a delação premiada.
A delação tem sido reconhecida historicamente como uma ferramenta eficaz e letal contra o crime organizado, como fica demonstrado pela experiência ao longo de décadas de outros países nos quais vigora, de forma totalmente compatível com o estado de direito.
Delação é dentro da própria lógica criminal o maior dos pecados e totalmente intolerável. Afinal, no contexto do crime organizado, o valor mais alto é a cumplicidade, a qual pressupõe segredo estrito e restrito aos pares.
Mas a delação premiada é apenas uma das facetas da Lei 12.850, a qual junto com a LJ inaugura um novo Espírito do Tempo que empodera os agentes da lei para golpear com mais eficácia o crime organizado em benefício das sociedades abertas e democráticas.
Há dois anos, os policiais federais e agentes do Ministério Público no Paraná, ao se depararem com as análises das investigações sobre operações ilegais do famoso doleiro de Londrina, foram paulatinamente desvendando uma extraordinária teia de dimensões nacionais de corrupção entre empreiteiros de obras públicas.
Mas, ao ir atrás do que viram, os integrantes da LJ acabaram por comprovar com fatos e evidências uma conspiração antirrepublicana em escala inimaginável orquestrada por políticos e partidos para manutenção do poder político de forma antidemocrática e criminosa e os resultados aí estão.
Daqui para frente, atores políticos, à esquerda, à direita, ou ao centro; igualmente atores econômicos serão capazes de prosperar de forma sustentável ignorando o fato de que a LJ inaugura um novo ambiente do domínio da lei no Brasil.
Muitos empreiteiros, empresários e empresas, políticos e partidos brasileiros, parafraseando o Chapolin Colorado, “não contavam com a astúcia” dos garotos da LJ. Como a Carolina do Chico Buarque, ficaram na janela e não viram o tempo passar. E por isso vão pagar caro, muito caro.
No Brasil que emergirá da Lava Jato, nos anos à frente, tanto nos negócios quanto na política, a honestidade como um valor maior vai se tornar um diferencial competitivo positivo e uma grande vantagem comparativa.

(Da Época – Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

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