Eleitor, pense bem

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoSe bem me lembro, neste espaço, falei já de Benedito Valadares, folclórica raposa mineira para quem política é como nuvem: você olha, é uma coisa; olha de novo, já é outra bem diferente. Ontem como hoje, veem-se aos abraços desafetos políticos que, há não muito tempo, se ameaçavam de morte. Não é reconciliação cristã, não; apenas acomodação de interesses.
Noutros países não sei, mas no Brasil política é a habilidade de abandonar o barco ao primeiro sinal de naufrágio. E de rumar bem depressa para outro mais seguro. Gente do mar conhece isso como procedimento de ratos. Sem risco de erro, pode-se garantir que a maioria dos nossos políticos tem em mente apenas a conquista do poder. “Mas não é o objetivo da política?”, perguntarão. Sim, mas para quê? Os nossos, em sua maioria, querem o poder para se ajeitar na vida. “Bem comum”, para eles, é pura balela.
Nestes dias juntei coragem e assisti, algumas vezes, a tal propaganda eleitoral ”gratuita”. Quer dizer: paga com nossos impostos. Alguém acredita que a TV, embora seja concessão do Estado, dá de graça um minuto de seu tempo? De qualquer forma, foi uma tentativa de minimizar o poder econômico nas eleições. Inútil. Partidos políticos e coligações tornam-se reféns de bancos e grandes empreiteiras, através das “doações” de campanha. No uso dos recursos arrecadados privilegiam-se os caciques das legendas, que se eternizam no poder. Como diz o povo: “Mudam as coleiras, os cães continuam os mesmos”.
Embora quem atraísse o povo aos antigos comícios fossem as duplas caipiras, pelo menos os candidatos tinham que discursar. Aí se via quem levava jeito para a coisa. Quem tinha uma fala com princípio, meio e fim.
Hoje nada mais se exige. A propaganda na TV é de uma indigência de fazer dó. Nas eleições proporcionais, bastam a cara do candidato e duas afirmações com a profundidade de um pires. Ou o candidato é um ignorante sobre o cargo que pleiteia, ou nos tem a todos como um bando de idiotas fáceis de levar no bico. Nas eleições majoritárias, em lugar de propostas sérias para os graves problemas regionais ou nacionais, espetáculo de vale-tudo verbal recheado de agressões mútuas. Devem crer que nosso povo aprova quem bate mais forte. Propaganda paga de rua, então – som, cartazes, desfiles – é pura vulgaridade e falta de imaginação. Musiquinhas abomináveis e palavrório repetido “ad nauseam” para torturar ouvidos que não têm como fugir da agressão. O povo agradece o fim do espetáculo. Se assim se pensa educar para a cidadania as novas gerações, teremos ainda séculos de aprendizado.
Mas este é o nosso país e este é o nosso povo. Melhor: nós somos esse país, somos esse povo. É aqui que somos chamados a dar nossa contribuição para um Brasil e um Paraná melhores. Cada eleitor tem, diante de Deus, a grave obrigação de pensar, refletir, analisar, verificar com atenção quem é aquele ou aquela a quem vai dar o seu voto. Voto é cheque que assinamos em branco e entregamos ao candidato. Damos-lhe o direito de usar o nosso rosto em Curitiba ou em Brasília. Já que não podemos estar lá, ele (a) será lá a nossa própria pessoa.
Se voto num ignorante, desonesto, corrupto ou desinteressado do bem comum, mostro-me igual a ele (a). Pior até. Porque tive chance de escolha. Serei responsável pelas falcatruas dele (a).

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