Estes também votam

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoEra minha intenção expor ideias que me ocorrem especialmente no período eleitoral. Coisas assim:
1. Coragem ou cara-de-pau de uns que pleiteiam cargos eletivos. Ou confiam demais no próprio taco, ou dispõem de muito dinheiro para jogar fora, ou, quem sabe, padecem de orgulho patológico, que os leva a se acharem o último biscoito do pacote. A menos que pratiquem artimanhas desconhecidas de cidadãos ingênuos, como eu.
2. Trinta e dois partidos políticos. Vai saber se não chegarão a 38, 42 ou 50? Será que espelham mesmo 32 distintas propostas de condução do país? Ou meros artifícios para fatiar o bolo do poder? E a “genialidade” de 39 ministérios? Lúcio Costa projetou a Esplanada com 17 prédios, mais do que suficientes.
3. Político profissional. É a carreira mais cobiçada, ao lado de futebolista de sucesso ou banqueiro. Por que todos querem agarrar-se ao poder até à morte? Por que fazem de tudo para colocar os parentes na mesma “profissão”? Em todos os Estados do Brasil existem cônjuges, irmãos, filhos, sobrinhos, netos, até cunhados no caminho do coronel da família. Dizem que o poder é afrodisíaco. Deve ser.
Pensava trazer ao leitor uma reflexão nessa linha. Mas tive a atenção desviada para algo mais banal. E deprimente. Que acontece bem diante do nosso nariz.
Domingo passado, alcançando a Catedral para a missa das 18h, levei um susto. Sempre chego meia hora antes. Em dias claros, a praça está cheia. Pais curtem uma tarde de convivência com as crianças. Raras cidades dispõem, como a nossa, de espaço para as famílias. Neste domingo, porém, assisti à saída de um Maracanã em final de Fla x Flu. No sábado, ergueram um palco atrás da Catedral. Com frequência, aliás, montam ali os petrechos de alguma babilônia para eventos de sabor artístico-cultural mais que discutível.
O pior eu iria descobrir na segunda-feira, às 6h20 da manhã. Na grama, uma imundície de dar nojo. O vento frio espalhava papéis para todo canto. O sacristão comentou que tinha visto 40 garrafas vazias de vodca. Achei exagero. Fui conferir. Sem andar muito, contei 63. Isso mesmo: só de vodca, sessenta e três. Em menor quantidade, cascos de outras bebidas alcoólicas, de energéticos, garrafas plásticas de refrigerante, copos descartáveis… Cacos de vidro perigosamente à margem da rampa de acesso ao templo.
Pessoas me contaram que no gramado já viram consumo aberto de drogas, brigas, camisinhas… Eu não vi nada disso. Até porque só dei rápida olhada, segunda-feira cedo, junto aos espelhos d’água do lado do McDonald’s. O que observei, porém, faz doer o coração de quem ama esta cidade. A Catedral não é só um templo religioso. É o mais importante monumento, o distintivo maior de Maringá. Pertence a todos os maringaenses, independentemente da fé que professem.
Concordo com Castro Alves que “a praça é do povo, como o céu é do condor”. Mas o condor não emporcalha o céu. Seja qual for a origem dos frequentadores, higiene não é favor, é obrigação. Ninguém tem direito de converter a praça num chiqueiro. Não se transforma espaço humano em reduto de suínos. E, por favor, não me venham com papo de preconceito, mau humor ou impertinência. Aqui se trata de cidadania.
Desordeiros que vandalizam a praça também votam. Definem a quem confiar nosso destino nos próximos quatro anos. Imaginem!

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